10 Reading Comprehension - Card Games - Grades 3-5-..

Um médico vive com seus dois filhos pequenos numa velha fazenda isolada no campo. Um dia, quatro homens fortemente armados chegam pela estrada poeirenta. Algo terrível e indescritível está para acontecer entre facções inimigas de uma guerra recém-terminada. A violência e a fúria das represálias logo se instalam na propriedade do doutor Manuel Roca, chamado por seus inimigos de Hiena. A únicatestemunha do cruel acerto de contas é uma garota, escondida e encolhida no fundo de um depósito. É ela a testemunha dos rescaldos perversos dessa guerra que parece não ter fim. (Propositadamente, Alessandro Baricco não a situa no tempo nem no espaço, mas num país imaginário de nomes hispânicos, embora as peripécias lembrem a resistência dos 'partigiani italianos' ao fim da Segunda Guerra Mundial.) E essa garota, Nina, meio século depois reviverá um novo acerto de contas. No romance de Alessandro Baricco, os gestos, o silêncio e o olhar dos personagens valem tanto quanto as frases curtas e de forte conteúdo. Opinião do Leitor: Freddy / Data: 26/7/2008 Conceito do leitor: Acerto de Contas Um ''thriller'' excelente na ausência proposital de tempo e espaço, onde dois personagens justificam o talento deste italiano merecidamente tão premiado. Destaque para o silêncio, percepção e ação dos personagens. Saiu na Imprensa: O Estado de S. Paulo / Data: 5/7/2008 Palavras para surpreender o leitor O italiano Alessandro Baricco, autor de "Sem Sangue", comenta o processo de composição de uma escrita sedutora Ubiratan Brasil O escritor italiano Alessandro Baricco gosta de desafios. E um dos mais instigantes foi escrever a história de duas vidas que se cruzam em dois momentos cruciais, narrados por ele como se fossem apenas dois retratos. "No início, eram quatro, mas consegui reduzir pela metade", disse ele, com uma indisfarçável ponta de orgulho. O resultado está no livro "Sem Sangue" (tradução de Rosa Freire d'Aguiar, 88 páginas), recém lançado pela Companhia das Letras e que será seu ponto de partida na mesa que vai dividir com Contardo Caligaris na Flip. "Sem Sangue" acompanha a trajetória de Nina que, quando menina, é salva pelo pai, que a esconde no momento em que a propriedade da família é atacada por quatro homens da facção rival à de seu pai. Meio século depois, ela reviverá um novo acerto de contas quando do encontro de uma senhora e um vendedor de bilhetes de loteria. Propositadamente, Baricco não situa a história no tempo nem no espaço, mas em um país imaginário de nomes hispânicos, embora as peripécias lembrem a resistência dos partigiani italianos ao fim da 2ª Guerra Mundial. Com isso, ele evita comparações com fatos reais, mantendo sua narrativa exclusivamente no campo ficcional. O assunto que une as duas narrativas aparentemente desconexas é a "vendetta", a vingança na qual se envolve a personagem Nina. Baricco conta que não se preocupou com a consumação do assassinato, como se poderia esperar nesse caso. "Mais importante para Nina não era matar mas encontrar uma figura que, como ela, esteve envolvida no trágico dia do assassinato de seu pai", diz. Os motivos? Pouco importa. O escritor italiano acredita que uma obra não pode conter todas as informações. "O leitor não precisa saber de tudo, basta o necessário", declara. "Com isso, sua curiosidade fica assanhada e sua imaginação começa a funcionar." Tampouco ele, na função de criador, detém todos os detalhes, embora seja mais bem informado que seu leitor. "Nem sempre sabemos tudo sobre nossos livros", conta Baricco. Com seu cabelo encaracolado e um sorriso amistoso, ele consegue disfarçar bem que completou meio século de vida em janeiro, criando uma trajetória de sucesso na literatura: seus livros sempre chegam em numerosas tiragens, ele circula pela sua cidade, Roma, em carros último tipo e normalmente é um escritor muito paparicado pelos fãs. O segredo talvez esteja na sedução provocada pela sua escrita, cuja cadência segue ao mesmo sabor de uma partitura. Seda, por exemplo, um de seus livros mais famosos, é um relato de sensações, de como a realidade objetiva se transmuta na visão, na memória e na linguagem de um indivíduo. Já "Esta História" é marcado por diferentes narradores, conduzindo a prosa a uma velocidade até alçar vôo. Por sua forma original de narrar, Baricco conquista especialmente leitores mais jovens, o que lhe garantiu a faixa de "escritor pós-moderno". Ele justifica a partir de seu método peculiar de escrita. "Sem Sangue", por exemplo, consumiu cerca de oito anos de maturação. Foi um trabalho basicamente mental. "Todos os dias, eu caminhava e pensava nos personagens, na condução da história, no objetivo que eu buscava", relembra. "Em nenhum momento, escrevi algo. Só fui ao computador quando me senti plenamente seguro com a narrativa." Ele vive, portanto, sob um estado constante de criação. "Minhas idéias nunca deixam de funcionar", suspira o escritor que, em Paraty, exercita a imaginação fazendo longas caminhadas pela manhã, na praia, onde, durante duas horas, observa o horizonte e a chegada dos pescadores ao porto. "Tudo pode ser inspirador." Com a mente aberta, Baricco consegue criar situações tão distintas. Em "Mundos de Vidro", seu romance de estréia (1991), por exemplo, um músico se apóia na ciência para criar experiências malucas sobre a propagação do som através de tubos metálicos. Já Novecentos acompanha a trajetória de um menino abandonado em um transatlântico. Por conta disso, ele nunca pisa em terra firme, crescendo para se tornar o mais virtuoso pianista jamais imaginado - a narrativa se transformou em um monólogo de sucesso no teatro. Ao longo desse processo, o escritor conta que pouco lê romances, concentrando-se em livros de não-ficção, especialmente os de referência, que forneciam algum dado histórico valioso como mapa, descrição de lugares, vestuário, cheiro. E, mesmo com todo plano narrativo detalhado em sua mente, Baricco ainda era surpreendido no momento da escrita. "Cerca de 30%, até 40% da trama, nasce no momento em que estou escrevendo. Não se trata, porém, da base do romance, de sua fundação: essa foi arquitetada durante os longos momentos de meditação." Em alguns momentos, no entanto, a novidade provoca uma alteração radical no livro. Em "Seda", por exemplo, Baricco conta que imaginara um determinado final, mas, durante o processo de digitação, descobriu outro, que se impôs. "Acredito, sim, que um livro muitas vezes nos obriga a contar a história de uma determinada forma." Outro desvio de percurso acontece quando vai definir o título do romance. Algumas vezes, como "Seda", ele surge logo no início do trabalho. "Em outros, porém, a inspiração não aparece nem quando termino o livro. Aí coloco o primeiro que me vem à cabeça. Tenho curiosidade, aliás, para saber como outros escritores enfrentam esse dilema." Baricco conta que o processo não é tão penoso, pois se trata do exercício de um dom. "Se eu tivesse habilidade com uma bola, seria jogador de basquete", comenta, com certo desdém. "Escrevo para relaxar depois de um longo período de pensamentos.' Mas a tarefa a que se impõe é provocativa. 'Meu princípio construtivo normalmente é atingir a síntese.' Com isso, ele explica os motivos de seus livros serem, habitualmente, enxutos em relação ao número de páginas. 'As palavras devem surpreender o leitor e, quanto menor for a quantidade, melhor." Mesmo assim, ele não se nega a abraçar projetos mais robustos, que necessitam ocupar amplo espaço. É o momento em que finalmente utiliza as digressões, a abundância de descrições, a quantidade de detalhes até um certo ponto inúteis. "Gosto dessa alternância. É estimulante." Sobre o autor: BARICCO, ALESSANDRO Nascido em Turim, em 1958, Alessandro Baricco estreou na literatura aos 33 anos e recebeu vários prêmios internacionais, principalmente por suas obras 'Oceanomar' e 'Seda'. Sucesso de crítica e público, sua obra é chamada n