O brincar é uma espécie de língua-mãe da infância. E foi exercitando essa língua que as autoras, em parceria com o fotógrafo Samuel Macedo, percorreram e conheceram nos últimos anos o país, conectando-se com as crianças das beiradas de rios, dos grandes centros urbanos, de comunidades quilombolas e povos indígenas – algumas regiões próximas, e outras bem distantes.A obra traz o cotidiano das crianças em seus quintais e os muitos jeitos de experienciar a infância. Seja em uma cidade grande ou pequena, comunidade ribeirinha ou quilombola, o brincar é o que une todas as infâncias, de norte a sul. “Compartilhamos no livro brincadeiras que encontramos, aprendemos e exercitamos nas cinco regiões brasileiras, mas vale ressaltar que os brincares não estão circunscritos a um só território, a uma só região, circulam livremente e vão mudando, de lugar para lugar, de geração para geração. Para a infância, brincar, um gesto espontâneo, é tão essencial quanto respirar”, conta Gabriela Romeu.Durante as viagens, as autoras foram descobrindo que restos de coisas e elementos da natureza eram a essência (e a potência) do brincar. “Em cada um dos quintais conhecemos as matérias-primas que crianças usam para criar e construir com o que têm no entorno seu próprio mundo – e seus brincares. E, no livro, nós também convidamos o leitor a elaborar quais são as vivências do seu próprio quintal. Além de compartilhar repertórios de brinquedos e brincadeiras, o livro é um convite para que todos, crianças e adultos, se conectem com seus brincares e seus quintais, tanto geográficos quanto simbólicos”, explica a jornalista.A autora conta que, desde que iniciou seu trabalho como jornalista, as reportagens que mais a instigavam eram aquelas que falavam sobre diferentes realidades infantis. Por causa do jornalismo, sempre viajou muito pelo Brasil conhecendo a vida das crianças e, de certa forma, seus quintais. A ideia do livro, segundo ela, vem do desejo antigo de criar pontes entre as diversas realidades de infância, abrir janelas para outras narrativas infantis, muitas vezes invisíveis, e fortalecer identidades de diferentes grupos.A viagem pelos quintais do país se iniciou em 2011, e os registros estão nos textos, fotos, vídeo e áudios reunidos no livro, permeado de narrativas, repertórios e experiências compartilhados pelas crianças em seus quintais – o rio e a floresta, a rua ou os fundos da casa. “No caminho, o principal aprendizado foi desaprender. Como adulto, a gente tem que desaprender muito para aprender com as crianças. E assim conhecer como elas descobrem o mundo, como dão soluções para seus desafios cotidianos. As crianças são cheias de saberes, e é muito significativo conhecer a perspectiva infantil de mundo”, ressalta a autora.Tem quintal em todo lugar: na praça, na floresta, nas ruas das pequenas cidades, nos fundos das casas e até dentro de cada um de nós (às vezes um pouco escondido).Neste livro vamos descobrir os quintais de crianças das cinco regiões brasileiras, onde folha vira catavento, pique é no pequizeiro e rio garante a diversão!Basta chegar, embarcar… E brincar!O brincar é uma espécie de língua-mãe da infância. E foi por meio dessa linguagem que Gabriela Romeu, Marlene Peret e Samuel Macedo conheceram o Brasil, conectando-se com as crianças das beiradas de rios, dos grandes centros urbanos, de comunidades quilombolas e povos indígenas – regiões algumas vezes próximas, outras bem distantes. Os registros dessa longa viagem que se iniciou em 2011, em textos, vídeos e fotos, estão reunidos neste livro, permeado dos saberes, narrativas e vivências compartilhadas com crianças em seus quintais. Os encontros com Valdecir e seu carretão, com Milena sob a sombra da mangueira, Welleton, Joel, Laísa e Arawari são feitos retratos daquele exato instante, daquele peculiar saber infantil, que é de cada um, mas é tão comum a todos –– afinal, as brincadeiras mudam de nome, mas, em suas diferentes versões, compõem a linguagem universal do brincar.Lá no meu quintal… convoca “meninas e meninos, pequenos ou crescidos, do Norte ou do Sul, a conjugar um verbo tão da infância (e do sempre): o brincar”."Diário das águas de Gabriela Romeu é uma especie de topografia do elemento úmido. Procura as coisas nas marés que entram e saem. Mas o curioso é que, nesse diário, as águas mais sobem, as marés mais enchem. Talvez Grabriela tenha sintonizado com as cheias imaginárias das crianças. Sempre as cheias exuberam o mundo. Nas cheias as crianças colhem, das beiradas de suas casas, de suas canoas, de seus pés, o vital para sonhar. Da janela vê-se o peixe, no quintal o jacaré e no caminho rema-se ao invés de andar. O mundo sobe. O espaço se inunda. O tempo escoa muito mais liquido. Sem falar que o cheiro de tudo é todo inundação. Crianças de marés cheias, atentas ao boiar e ao atracar, aguardam, esperam do tempo, a grande vida da submersão. Acho que Gabriela pediu à lua que se firmasse no zênite um tanto mais, deixando seu diário amanhar mais e mais igapós nas crianças que o encontrem." — Gandhy Piorski
Sobre os autores(as)
Romeu, Gabriela
Gabriela Romeu é jornalista, documentarista e escritora, especializada em produção cultural para infância. Há 20 anos escreve para a Folha de S.Paulo, em que editou o caderno Folhinha, coordenou o projeto Mapa do Brincar (Grande Prêmio Ayrton Senna de Jornalismo), escreveu diversas reportagens sobre as realidades infantis brasileiras e há 15 anos atua na crítica de teatro infantil para o Guia da Folha. É autora e coautora de livros que criam pontes entre diferentes realidades infantis, como Terra de cabinha - Pequeno inventário da vida de meninos e meninas do sertão (Peirópolis; Prêmio Jabuti, FNLIJ e Cátedra Unesco), Tutu-moringa, história que tataravó contou (Companhia das Letrinhas), Álbum de família - Aventuranças, memórias e efabulações da trupe familiar Carroça de Mamulengos (Peirópolis), Lá no meu quintal (Peirópolis), Menininho (Panda Books) e Irmãs da chuva (Peirópolis). É diretora do projeto Infâncias, que desde 2011 registra os saberes, fazeres e viveres das crianças por muitos Brasis.Atua como roteirista e diretora de documentários sobre e para crianças, alguns deles premiados em festivais do Brasil e do exterior, como Disque quilombola e Meninos e reis, que trata da história de Maria, a mesma personagem do livro Noite de brinquedo. |
Macedo, Samuel
O fotógrafo Samuel Macedo é um cabinha de verdade. Ele nasceu no Crato, Cariri Cearense, cresceu em Nova Olinda, ao lado da Chapada do Araripe, e hoje viaja o País inteiro fotografando a infância de meninos e meninas de todo o Brasil. Da oficina do avô saiu a primeira câmera escura com que descobriu ser possível fotografar o mundo e a infância. A vontade de fotografar e filmar foi crescendo junto com ele, até que, na Fundação Casa Grande, com um grupo de cabinhas, criou a TV Casa Grande, onde se formou fotógrafo e embarcou, com Gabriela Romeu, nas viagens do Projeto Infâncias. |
Peret, Marlene
jornalista especializada em terceiro setor e empreendedorismo social pela FGV/SP e pesquisadora da infância. Implantou e coordenou o Prêmio Empreendedor Social, organizado pela Folha de S.Paulo em parceria com a Fundação Schwab (Genebra/Suíça). Por muitos anos (2005-2012) viajou pelo país para documentar projetos sociais, muitos deles ligados à infância. Entre outros trabalhos feitos para a Folha, participou do projeto Mapa do Brincar, que desde 2011 está documentando os saberes, viveres e fazeres das crianças em diferentes regiões do país. É coautora do livro Lá no meu quintal (Peirópolis). |