"Transgressão também nos palcosEntre 1967 e 1969, já dedicando-se inteiramente à literatura, a até então poeta Hilda Hilst (1930-2004) escreve, de um fôlego só, oito peças de teatro. Estamos em pleno período do endurecimento da ditadura militar, com a perda das garantias individuais diante de um Estado autoritário. Toda sua obra dramatúrgico ecoará essa época.Em “A morte do patriarca” (1969), temos uma alegoria filosófica: o Demônio é personagem, e a humanidade se encontra num estado de total desesperança. Já em “O verdugo”, do mesmo ano, o carrasco de uma aldeia hesita em executar o Homem, que professa discursos revolucionários e é amado pelo povo. Aqui, como em outras obras, a autora se debruça sobre a solidariedade como princípio humanizador incondicional.Cinco décadas depois de escrito, o teatro de Hilda Hilst mostra-se totalmente atual – e mais necessário do que nunca.?“A autora é uma espécie de unicórnio dentro da dramaturgia brasileira.” - Anatol Rosenfeld" "1) A poeta, romancista e dramaturga paulista Hilda Hilst é a autora homenageada este ano da FLIP (25 a 29 de julho). A homenagem já está tendo ampla cobertura da imprensa, com diversas atividades acontecendo, como foi a programação especial que ocorreu na Virada Cultural em maio, em São Paulo. Este é o ano de Hilda Hilst. 2) A obra teatral de Hilda é importantíssima na sua trajetória, e, no entanto, pouco conhecida do público - principalmente dos leitores contemporâneos. Foram reunidas em livro apenas uma vez, em 2008, pela editora Globo, e encontram-se fora das livrarias. Agora a L&PM Editores traz essas obras ao grande público, em quatro volumes de bolso, cada um com duas peças. 3) As oito peças que a autora escreveu, em menos de três anos (de 1967-1969), fazem um elo entre sua obra prévia e sua obra posterior, sobretudo no que diz respeito à redação de ficção em prosa. Tratam de morte, solidão, desilusão, autoritarismo e outros temas fundamentais da condição humana. 4) Foram escritas num curto período, quando a autora recém havia se recolhido ao interior de São Paulo (na conhecida Casa do Sol, moradia que construiu com o fim exclusivo de dedicar-se à literatura e que hoje abriga o Instituto Hilda Hilst). São, portanto, os primeiros frutos dessa nova fase. 5) As peças ecoam um momento político específico - o recrudescimento da ditadura militar brasileira e o acirramento da Guerra Fria; situações de autoritarismo, exceção e violência estão presentes. Diante do ambiente de polarização, judicialização e posicionamentos extremistas que se vê hoje no Brasil, elas se mostram totalmente atuais. 6) Inclui um saboroso ensaio biobibliográfico inédito de Leusa Araújo, jornalista e roteirista que foi amiga de Hilda Hilst; bem como um texto mais curto de Carlos Eduardo dos Santos Zago, doutor em Letras pela Unesp com uma tese sobre Hilda Hilst, sobre as peças de cada volume. 7) Este volume contém “O verdugo” e “A morte do patriarca, ambas escritas em 1969 - os dois últimos textos teatrais escritos pela autora. “O verdugo” é um de seus textos dramáticos mais fortes, encenando um carrasco de uma pequena aldeia que se recusa a fazer seu serviço e executar O Homem, um personagem que é não um criminoso, mas um revolucionário amado pelo povo. Misturando realismo e absurdo, referências contemporâneas e medievais, laicas e bíblicas, a autora faz aqui um texto pungente sobre as noções de justiça/ injustiça, o conflito entre princípios e ambição, e sobre a violência de que a coletividade é capaz. 8) As poucas edições feitas com o teatro da autora são bastante procuradas. 9) O lançamento será conjunto com o volume que traz “As aves da noite” e “O visitante”. 10) Hilda Hilst, vista por muitos como uma autora cult, que até determinado momento teve uma circulação restrita, é hoje vista como uma das principais vozes da literatura brasileira da segunda metade do século XX. Criadora de um universo literário completo, tendo iniciado-se na poesia, mas frequentado também o drama, a prosa ficcional e a crônica, sempre teve uma voz inquieta e questionadora, abordando temas pouco comuns na literatura, como o amor erótico. Recebeu alguns dos principais prêmios brasileiros, como o Jabuti e o PEN Clube do Brasil, e hoje está sendo redescoberta pelas novas gerações de leitores. "
Sobre os autores(as)
Hilst, Hilda
HILDA HILST nasceu em 1930, em Jaú, no interior do estado de São Paulo. Formada em direito pela Universidade de São Paulo (USP), aos 35 anos mudou-se para a chácara Casa do Sol, próxima a Campinas, onde se dedicou integralmente à criação literária. Escreveu poesia, ficção e peças de teatro. Morreu em 2004. Foi a autora homenageada da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) em 2018. |
Pinheiro Machado, Ivan
Capa: Ivan Pinheiro Machado sobre a pintura “Retrato de Dante” (1495), Sandro Boticelli 47 x 57 cm, têmpera sobre madeira. Coleção particular, Genebra, Suiça. |